DO "CINEMA DE BORDAS" AO CINEMA DOS INTERIORES

O chamado cinema de bordas é um conceito importante para este projeto.  Segundo os estudos da professora e pesquisadora Bernadette Lyra, trata-se de todos os filmes produzidos fora do círculo industrializado de produção cinematográfica. Diante da escassez de recursos e muita criatividade, diversos trabalhadores do cinema vêm desenvolvendo um cinema significativo nos interiores e nas periferias do país. Mas, tal condição não finda-se na produção, pois para fazer circular esses filmes, também tem-se buscado fomentar novos formatos de produção, exibição e acesso ao conhecimento especializado em suas cidades, como este projeto. Muitas vezes essas ações acabam por apresentar um caráter fortemente inventivo e criativo para lidar com as adversidades, o que acaba por trazer marcas bastantes autorais das comunidades onde estão inseridas, se materializando por bases plurais e democráticas como o cinema nas bordas.

Este conceito nos interessa, não em sua reprodução absoluta, mas nos provoca a pensar e reconhecer modos de produções rejeitadas ou ignoradas pela indústria da cultura. Não se trata, portanto, apenas de reconhecer um agrupamento distinto de filmes, livros ou idealizar um gênero específico, mas de criar uma estratégia de leitura que oportune o fomento e a compreensão das concepções artísticas e as condições sociais de determinados circuitos culturais que também apresenta seu modo de criar e produzir imaginários. É dentro dessa chave perceptiva que acreditamos no papel da difusão do conhecimento da leitura e na produção do novo cinema dos interiores a partir de perspectivas feministas, negras, indígenas e LGBTQs.

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Priscila Sales, coordenadora do projeto